Conhecendo o aluno deficiente físico:

06/04/2010 16:18

 "A aventura básica da vida está em como a pessoa organiza existência, desorganiza o que já não é mais relevante e cria novas experiências para se tornar a pessoa que vivencia e não a pessoa que imagina ser." (Keleman)

As ações voltadas para a pessoa portadora de deficiência física, dentro da sala de aula e no ambiente escolar, devem incluir medidas que tenham como objetivo promover a diminuição das diferenças, causadas por comprometimentos funcionais exigindo por parte da comunidade escolar atitudes, que facilitem o acesso e a permanência do aluno deficiente físico, tornando possível o aprendizado global e a ampliação de sua rede social inicialmente restrita ao âmbito familiar a terapêutico.

Dentre essas ações podemos incluir:

- Utilização de recursos ergonômicos (mobílias, órteses e adaptações) capazes de permitir postura e alinhamento adequado, para o auxílio nas  realizações das funções motoras direcionadas ás tarefas escolares.

- Organização cuidadosa dos espaços físicos, visando facilitar o deslocamento e a movimentação do deficiente na sala de aula e no ambiente escolar. (Rampas de acesso, corrimãos nas salas e sanitários, ampliação das portas de acesso etc.)

- Orientações, práticas é esclarecedoras aos educadores e comunidade escolar a respeito dos cuidados em relação ás AVDs (Atividades da Vida Diárias) do deficiente físico.

- Estimular o aluno a se valer das suas reais possibilidades para se relacionar, explorar e aprender, criando novas possibilidades que contribuirão para a ampliação de sua rede social.

- Elaborações de planos de estudos para aproximar os educadores de conhecimento a respeito do desenvolvimento global e psicomotor, das disfunções relacionadas ao tônus, postura e movimentos e dos aspectos emocionais que irão de certa forma alterar a organização de sua experiência humana.

Dentro do universo escolar não podemos deixar de considerar o corpo do deficiente físico como o lugar existencial onde permanece um ser, uma vida,  uma história que necessita de permanente ordenação, estruturação e que cria a todo momento novas conexões para o enriquecimento de seu potencial motor, que segundo Keleman (1990) é o gerador de trocas entre o seu organismo e o meio.

Para que o homem possa se movimentar e executar tarefas de forma coordenadas e direcionadas se prepara desde muito cedo. O bebê por exemplo possui atividades essencialmente motoras, que serão a base do seu desenvolvimento psicomotor, inicialmente traduzidas em atividades reflexas que darão lugar as atividades voluntárias e automatismo, estes contribuirão para manutenção do equilíbrio e da postura estável. As repetições de gestos numa combinação de ação muscular, força e flexibilidade, permitirão o desenvolvimento de habilidades mais complexas da criança em idade escolar.

Vayer (1969) considera o caráter interrupto do desenvolvimento: "Não veremos degraus nitidamente definidos em relação ás aquisições de habilidades. Existe uma transição progressiva para o desempenho de funções mais sofisticadas".

Quando a criança começa a utilizar os meios de expressões gráficas como recortar, ler, escrever, transcrever em sentido bem definido, ela necessitará da lançar mão de algumas habilidades como estabilizar o seu corpo e efetuar movimentos com independência das articulações dos ombros, cotovelos, punhos e dedos e ao mesmo tempo necessitará da preensão, pressão e coordenação como podemos observar, sempre existirá influencia do comportamento motor sobre o comportamento geral e isso prosseguirá durante todo o processo educativo, por tanto é impossível separar funções motoras das puramente intelectuais.

Kandell (1999), considera que: "O sistema sensorial possui uma representação interna do mundo externo". Talvez a maior função desta representação  seja extrair as informações necessárias para direcionar os movimentos , que implicarão nas aquisições do repertório comportamental. Esses movimentos são controlados por um sistema motor que mantém o equilíbrio e a postura , permitindo a comunicação através de gestos e palavras.

A partir deste referencial teórico, gostaria de propor algumas situações vivenciadas para os educadores, facilitando o entendimento das disfunções motoras que impedem o deficiente físico de certa forma fazer uso pleno de seu corpo no campo gravitacional.

Por exemplo: procure movimentar-se em diferentes posturas no espaço, alcance objetos, escreva, ande, corra, salte, equilibre-se etc. preste a atenção como você se utiliza do seu corpo para estas atividades. Você percebeu que durante as atividades realizou ajustes para conseguir melhor eficácia e precisão dos movimentos. Após a experiência acima procure realizar as mesmas atividades aumentando ou diminuindo a intensidade de suas contrações musculares. Como você pode perceber as possibilidades de exploração e experimentação ficaram limitadas, aparecendo dificuldades para diversas tarefas.

O aluno deficiente físico enfrentará as mesmas dificuldades para realizações de determinadas tarefas, em maiores ou menores proporções, dependendo do grau de comprometimento que o atingiu.

Nossos alunos podem apresentar desarmonias nos movimentos voluntários e alterações posturais. Os movimentos voluntários representam as mais complexas ações tais como: escrever, manusear, tocar piano, etc. Estes movimentos são considerados propositais, pois eles servem de resposta á estímulos externos específicos, sendo direcionados para uma determinada função e seu aprendizado e sua performance melhoram com a prática.

Outras funções como correr, andar, carregar, cavalgar podem ser consideradas combinações de atos reflexos e movimentos voluntários.

A postura é outro aspecto que pode estar desarmônico por alterações da modulação tônica. Ela é um fator preponderante, responsável por todas as posições do corpo no espaço.

Podemos dizer que a postura e o movimento são elementos fundamentais para realização de determinadas funções. A postura trabalha estabilizando o corpo no espaço e dá condições para que o movimento se realize.

O movimento depende da percepção, cognição e do próprio ato motor e envolve a capacidade de adaptação e planejamento da tarefa que será executada.

O educador ao lidar com o aluno deficiente físico, deverá ter uma preocupação primária que será como este aluno utiliza seu corpo para determinadas funções. E como organiza suas experiências para o seu processo formativo incluindo a imitação, o desejo, a sensibilidade, a analise, e a imaginação. Considerando que todo o organismo tem uma maneira singular de se organizar, de reagir, formar e reformar, ordenar e desordenar. O stress, agressões e lesões sofridas pelo organismo agirão como fatores desorganizadores de sua existência alterando a sua maneira de estar no mundo, de trocar com o outro e com seu ambiente.

Keleman nos ajuda a analisar a postura e o movimento além das funções biomecânicas, dando ênfase a uma configuração genética, bioquímica e emocional.

O educador deve acreditar que o aluno deficiente físico pode sempre, dentro de suas possibilidades se reorganizar quando é dado a ele oportunidades.

"Cada um de nós tem a possibilidade de continuar de se identificar com os padrões antigos ou de se organizar.

Podemos viver uma vida que nunca muda. Se pudéssemos sentir as conexões que vão do inferior de nosso corpo até o mundo exterior e da superfície as profundezas, poderemos experimentar a profundidade corpóreo-emocional de nossa vida diária." (Keleman 1979)

 

Bibliografia

 

Curso de Formação Continuada de Professores da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro na perspectiva da educação inclusiva para alunos com necessidades educacionais especiais.